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Projeto busca inclusão de jovens negros e negras no mercado de trabalho na região de Campinas

MPT realizou essa semana audiência coletiva e reunião com representantes de órgãos, entidades e movimentos negros para formar uma rede para inclusão de profissionais negros no mercado de trabalho do interior paulista, com destaque para empresas, escritórios de advocacia e agências de publicidade

Campinas - O Ministério Público do Trabalho (MPT) deu início à implementação, em Campinas (SP), do “Projeto de Inclusão de Jovens Negros e Negras no Mercado de Trabalho”, que consiste em um trabalho estratégico de articulação com empresas e parceiros institucionais, como universidades, OAB, sociedade civil organizada e entidades de movimentos negros, a fim de conscientizar sobre a importância da diversidade racial no ambiente empresarial. Para isso, nessa terça-feira (1/9) foi realizada uma audiência coletiva virtual com 30 empresas da cidade e, na quarta-feira (2/9), uma reunião com entidades que farão a interlocução entre jovens negros e negras, centros de formação superior e setor empresarial.

A iniciativa decorre de um trabalho realizado em âmbito nacional pela Coordenadoria Nacional de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho (COORDIGUALDADE), que culminou, inclusive, em um pacto com empresas do setor publicitário em São Paulo, com o objetivo de incluir e valorizar a população negra nas agências e nos próprios trabalhos de criação publicitária. A ideia de iniciar um projeto para sensibilizar os gestores empresariais de todo o país veio a partir da análise das estatísticas levantadas por instituições como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo o estudo “Desigualdades Sociais por Cor e Raça no Brasil”, divulgado em 2019 pelo IBGE, a população negra representava a maior parte da força de trabalho no país (54,9%) em 2018. A proporção de pretos e pardos correspondiam a cerca de dois terços das pessoas desempregadas (64,2%) e das que trabalhavam menos horas do que gostariam ou poderiam (66,1%). A pesquisa apontou que os negros são os que mais sofrem com a informalidade: em 2018, 47,3% das pessoas ocupadas pretas ou pardas estavam em trabalhos informais, enquanto que este percentual para os brancos era de 34,8%. Uma pesquisa do IBGE mais recente, de 2020, apontou que a população preta foi a que mais sofreu com a desocupação durante a pandemia de Covid-19 (17,8%).

Segundo o Observatório de Diversidade e da Igualdade de Oportunidades no Trabalho, com base em dados oficias da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2017, há grande diferença de remuneração média entre raças no setor formal na cidade de Campinas. Enquanto homens brancos ganhavam um salário médio de R$ 4,3 mil, os homens negros recebiam, em média, R$ 2,7 mil. As mulheres negras, por sua vez, tinham uma média salarial de R$ 2 mil, enquanto as mulheres brancas recebiam remuneração média de R$ 3 mil.

Uma pesquisa realizada pelo instituto Ethos mostrou que os negros ocupam apenas 4,9% das cadeiras nos Conselhos de Administração das 500 maiores empresas em faturamento do Brasil. Entre os quadros executivos, eles são 4,7%; na gerência, apenas 6,3% dos trabalhadores são negros.

“A análise dos dados revela a grande disparidade que existe no mercado de trabalho brasileiro na questão étnico-racial. O MPT deve defender os interesses sociais, dentre eles, a igualdade e a não discriminação, por isso, tomou a iniciativa de implementar o projeto de inclusão de jovens negros e negras no mercado de trabalho de Campinas, através da interlocução social na promoção e efetivação desses direitos”, afirma a procuradora e coordenadora regional da COORDIGUALDADE, Danielle Olivares Correa.

Audiência coletiva - Com a participação de representantes de 30 empresas da cidade de Campinas, incluindo agências de publicidade e escritórios de advocacia, o MPT reuniu em audiência coletiva virtual cerca de 50 pessoas.

O encontro deriva de um procedimento promocional (PROMO) instaurado em 2020, com o objetivo de dar efetividade ao projeto nacional de inclusão de profissionais negros e negras também no interior de São Paulo. Ao final do evento, o MPT concedeu às empresas o prazo de 30 dias para que informem, nos autos do PROMO, o número de empregados negros que possui em seus quadros, os cargos que ocupam, se existe, em cada empresa, política de equidade étnico-racial, e as práticas já adotadas ou planejadas internamente para promoção da igualdade racial.

Os segmentos de advocacia e publicidade foram escolhidos pelo MPT por terem baixa representatividade da população negra. Um levantamento feito pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), de 2019, revelou que os negros representam 1% dos advogados de grandes escritórios. Em empresas de publicidade, segundo pesquisa da consultoria Danila Dourado, o percentual de negros e negras no quadro funcional é de apenas 3,5%, e apenas 0,7% de pessoas negras integram o quadro de executivos das maiores agências do país, levando em consideração que, segundo o IBGE, a população negra equivale a 56% do total dos brasileiros. “Foram convidadas a participar da audiência as empresas com maior potencial de promover essa inclusão étnico-racial. A economia perde com o desperdício de talentos, devido à ausência de políticas de equidade dentro das empresas. Em centros urbanos como do interior paulista, que possui grandes polos de formação universitária de excelência, existe um potencial enorme para inclusão”, observou a procuradora Danielle Olivares Correa.

A procuradora e gerente do Projeto em âmbito nacional, Valdirene Silva de Assis, explicou aos presentes a estrutura do projeto, chamando atenção para a discrepância entre o mercado e o número cada vez maior de jovens negros formados pelas universidades, uma vez que essa maior presença não tem trazido reflexos na maior empregabilidade desse público. Segundo o IBGE, a população negra superou a branca em presença nas universidades públicas (50,3%).

“Muitas vezes, as questões estruturais e históricas chegam antes dos currículos dos profissionais. Há a necessidade de retirar dos processos seletivos as lógicas excludentes. Entendemos que é possível mudar a cultura, inaugurar uma nova página no mundo do trabalho, e a melhor forma de fazê-lo é através do convencimento, da conscientização e de uma grande rede de equidade”, disse a procuradora.

A docente e presidente da Comissão Assessora de Diversidade Étnico-Racial (CADER) da Diretoria Executiva de Direitos Humanos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Débora Jeffrey, falou de forma abrangente sobre o quadro de discentes da UNICAMP, por distribuição de raça e por curso, lembrando das ações afirmativas de inclusão de jovens negros e negras adotadas pela instituição desde 2005, com destaque para o primeiro vestibular com cotas para negros no processo de seleção de novos alunos, realizado em 2019, algo que deve repercutir fortemente no oferecimento de mão de obra qualificada em Campinas nos próximos anos. “A implementação de cotas para negros passa a apresentar uma dinâmica para o mercado de trabalho de forma mais intensa e direta para a região de Campinas”, afirmou.

A advogada, professora da Faculdade de Direito do Mackenzie e pesquisadora em gênero e raça no mercado de trabalho, Alessandra Benedito, fez uma análise sociológica das questões raciais e seus reflexos no mercado de trabalho, apontando para as características que constituem a sociedade brasileira e os motivos que levam ao atual cenário de discriminação.

“Dentro dessa perspectiva, quando falamos de diversidade, é para que abramos uma multiplicidade de portas para pensar a inclusão racial dentro das nossas organizações, como ela pode contribuir para a sociedade e para os negócios”.

Segundo Alessandra, esse desequilíbrio não favorece a sociedade. A exclusão da população negra do mercado de trabalho formal e a ausência de representatividade em cargos de liderança traz impactos não apenas para as famílias de negros e negras, afastando o país da justiça social, mas também impactos para o desenvolvimento do país.

Se os consumidores negros fossem um país, seriam o 11º país do mundo em população, com mais de 114 milhões de pessoas. O processo de despertar deve ir além da questão social. Esse trabalhador negro deve ser visto também como consumidor”, afirmou, afirmando que 67% das pessoas negras preferem marcas que têm valores parecidos com os seus, ou seja, é um público com potencial para colocar em evidência as marcas e as empresas.

Alessandra concluiu sua palestra que é muito importante colocar o tema do racismo no divã, que ele deve ser falado na empresa e na comunidade, a fim de que tal discussão possibilite que a necessidade do outro seja entendida. “Precisamos não apenas inserir os negros na organização, mas fazer com que essas pessoas façam parte dessa organização. Incluir é preciso, diversidade é essencial e planejar é um bom começo para toda ação. Planeje o processo de inclusão, participe de diálogos e rodas de conversa, garanta que a justiça social se implemente”, concluiu.

O evento foi encerrado com a manifestação da diretora executiva da Diretoria de Direitos Humanos da UNICAMP, professora Neri Barros de Almeida, que exaltou a iniciativa do MPT como algo com potencial para mudar o mercado laboral e a sociedade, com a participação ativa das instituições de pesquisa e ensino superior. “Espero que tenhamos cada vez mais planos robustos, sejam eles pertencentes a movimentos sociais ou órgãos públicos, e que a partir daí possamos realizar a inclusão que nos interessa, para que tragamos novas formas de vivência que nos capacitem a atender demandas sociais mais amplas. Esperamos que essa inclusão seja cada vez mais plena, na medida em que mudamos a maneira como fazemos ciência ou olhamos a sociedade”, finalizou.

Reunião estratégica - Na manhã dessa quarta-feira, o MPT se reuniu com representantes do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região, da Comissão da Igualdade Racial da OAB Campinas, da Comissão da Verdade da OAB Campinas, da Rede Brasil Afro, da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra no Brasil da OAB Campinas e da Coordenadoria Especial de Promoção da Igualdade Racial (CEPIR Campinas), a fim de buscar parcerias estratégicas que sirvam como ponto de interlocução entre empresas, jovens negros e negras e universidades.

O objetivo do encontro é criar uma rede de diálogo entre as partes para viabilizar uma verdadeira inclusão social, trazendo para a realidade um maior número de profissionais negros e negras no mercado de trabalho do interior paulista.

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