Evento em São Paulo faz reflexão sobre os direitos sociais da mulher

São Paulo - A Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e o Ministério Público do Trabalho (MPT) realizaram na manhã dessa sexta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, o evento “Futuro da mulher no mundo do trabalho: erradicar o trabalho escravo e promover a garantia dos direitos humanos a partir de ações do desenvolvimento sustentável”, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

O evento, que contou com um público de aproximadamente 800 pessoas, debateu como o mundo do trabalho e as propostas econômicas de desenvolvimento devem se ampliar a partir da sustentabilidade social e a com a erradicação do trabalho escravo.

Na abertura das atividades, o procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Fleury, fez um resgate histórico do movimento das mulheres trabalhadoras na Rússia, em 1917, que marcharam contra a guerra e por melhores condições de trabalho, lembrando que o dia da mulher tem origem operária.

Apoiado em estatísticas do PNAD, Fleury apontou que, apesar das conquistas femininas ao longo das últimas décadas, as diferenças salariais entre gêneros evidenciam a discriminação no mercado de trabalho. O PGT lembrou dos desafios enfrentados pelas mulheres, que muitas vezes ficam divididas entre as obrigações profissionais e domésticas, em uma verdadeira dupla jornada.

“No âmbito doméstico temos uma importante barreira a se quebrar: o trabalho exaustivo e indigno de mulheres em favor de famílias, por anos, muitas vezes décadas, sem amparo previdenciário e escondido da sociedade. Importantes relatos vieram a conhecimento do MPT nos últimos anos ensejando, inclusive, resgate de trabalhadoras domésticas”, afirmou o PGT.

Por fim, Fleury exaltou o papel do Ministério Público na sociedade e sua importante função no combate às desigualdades de gênero e garantia dos direitos sociais da mulher. “Dentre todos os ramos do Ministério Público brasileiro, o MPT é aquele que possui mais mulheres em seu quadro, inclusive em cargos de liderança”, pontuou.

A coordenadora nacional da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (CONAETE), Catarina von Zuben, citou estudo do IBGE que aponta o crescimento da população feminina brasileira até 2050, que deve ser superior à população masculina em 7 milhões de pessoas. Contudo, segundo ela, o incremento no número de mulheres que chefiam as suas famílias pode ampliar ainda mais o abismo salarial entre os gêneros, fazendo com que o público feminino procure ocupações em tempo parcial como forma de conciliar trabalho e demais afazeres. Calcula-se que a mulher ganhe, em média, o equivalente a 67% do salário do homem.

“Mais que comemorar, neste Dia Internacional da Mulher é importante refletir o papel feminino nas relações de trabalho e o papel transformador da mulher”, disse Catarina.

Finalizando a mesa de abertura, o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, falou da satisfação em estimular o debate sobre o tema, destacando que este é um dos papeis da universidade pública.

Proteção da mulher - Na sequência, Maria da Penha Fernandes, que batizou a Lei Maria da Penha de combate à violência contra a mulher, falou ao público sobre sua trajetória e acerca da necessidade da continuidade das ações para o enfrentamento do feminicídio.

Segundo Maria da Penha, um aspecto precisa ficar claro em relação à lei que leva o seu nome. "A lei não foi criada para punir os homens, mas para proteger as mulheres da violência doméstica e punir os agressores". Ela lembrou que a maioria dos assassinatos de homens ocorre nas ruas ou nos bares, enquanto que os homicídios contra as mulheres normalmente acontecem dentro de casa, praticados pelos seus companheiros, ou seja, "por quem deveria protege-las", pontuou.

Maria da Penha defendeu a necessidade de o país investir mais em educação e, nesse contexto, conscientizar as crianças sobre a problemática da violência doméstica. "Precisamos desconstruir o machismo presente na sociedade. Juntos, podemos fazer a diferença", afirmou.

Após a fala de Maria da Penha foi a vez do historiador Leandro Karnal, professor da Unicamp, se dirigir ao público. Ele lembrou que a luta contra a misoginia não é uma pauta somente das mulheres, mas de todos. Karnal revelou que está realizando pesquisa para um livro que deverá ser lançado ainda em 2019. "Em função dos estudos que estou fazendo, estou inclinado a concluir que a misoginia é, entre todos os preconceitos, o mais sólido no Ocidente".

O historiador defendeu a necessidade de a sociedade se libertar de ideias excludentes e violentas, bem como chamou a atenção para a importância da coação contra quem pratica a misoginia, o racismo e a homofobia. "O limite da tolerância é a ética", disse.

O evento contou ainda com um painel em que foram discutidos assuntos como políticas públicas, empreendedorismo, proteção social, entre outros, sempre tendo em perspectiva a defesa dos direitos das mulheres, com as participações da procuradora do MPT Adriane Reis de Araújo; da gerente de projetos da Aliança Empreendedora, Cristina Bonjardim Filizzola; da diretora executiva do Fashion Revolution, Fernanda Simon; da vereadora por São Paulo Patrícia Bezerra e da multiplicadora social do Centro de Apoio e Pastoral do Migrante (CAMI), Tomasa Nancy Salva Guarachi. O painel foi mediado pela advogada e apoiadora do movimento “Juntas Impactamos”, Juliana Felicidade Armede.

Durante todo o evento, o público teve acesso à exposição "Costurando Dignidade", com imagens do fotógrafo Chico Max, cujo trabalho conta a história de mulheres migrantes que lutam diariamente contra as condições análogas à escravidão em oficinas de costura.

A iniciativa contou com o apoio do Observatório de Direitos Humanos da Unicamp e Observatório das Migrações em São Paulo.

Com informações da Unicamp

Foto: Antonio Scarpinetti/Unicamp

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