MPT lança desenho animado sobre trabalho infantil

Campanha que integra a hashtag #ChegaDeTrabalhoInfantil tem como pano de fundo a importância de ver toda criança como nossa criança

Campinas - Em 12 de junho, Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, o Ministério Público do Trabalho lançará a campanha “Toda Criança é Nossa Criança. Diga Não ao Trabalho Infantil”, que tem um filme de animação como principal produto de divulgação. A iniciativa integra o posicionamento de comunicação adotado pela instituição desde 2017, com a hashtag #ChegaDeTrabalhoInfantil.

O filme conta a história de Beto, um adolescente de 14 anos em situação de vulnerabilidade social, que vivia de catar latinhas na rua. Um dia, seu Elias, dono de uma fábrica, resolveu dar um emprego de carregador de caixas ao Beto. Afinal, pensava ele, “melhor trabalhar do que ficar na rua, ou do que roubar”. A partir daí se desenrola toda a trama da peça animada, que culmina no oferecimento de um programa de aprendizagem pelo empregador, gerando oportunidades aos adolescentes e uma notável melhoria na comunidade do seu entorno.

“O objetivo do desenho animado é conscientizar a sociedade sobre os mitos que envolvem o trabalho infantil. Muitas vezes, ao oferecer trabalho para crianças e adolescentes, as pessoas acham que estão ajudando-os a sair da rua, a ter um futuro, mas na verdade estão contribuindo para a perpetuação de um ciclo de miséria, podendo até trazer prejuízos graves à formação física, intelectual e psicológica desse jovem ou criança. Tudo tem o seu tempo. Lugar de criança e adolescente é na escola. Só a partir dos 14 anos os jovens podem exercer atividades de formação profissional em programas de aprendizagem, com todas as proteções garantidas”, afirma a coordenadora nacional da Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (Coordinfância) do MPT, Patrícia Sanfelice.

A campanha se estenderá às redes sociais do MPT em todo o país, com a divulgação do desenho animado e de informações relativas ao tema, sempre mostrando que as oportunidades fazem toda a diferença na vida de qualquer criança.

“O slogan da campanha mostra a visão que deveríamos ter com relação às nossas crianças. Toda criança deve ser vista como nossa criança, como nosso filho, seja aquela que está no semáforo vendendo balas, aquela que está trabalhando na feira livre e em qualquer outra atividade laboral. A pergunta a ser feita é: você deixaria o seu filho naquela situação de trabalho? Tenho certeza que a maioria responderia que não”, explica o vice-coordenador nacional da Coordinfância, Ronaldo Lira.

A campanha foi viabilizada com verba de acordo judicial, mediante a colaboração da procuradora Giselle Alves de Oliveira, do MPT São Paulo.

Lançamento - O filme será lançado oficialmente durante um evento no Modelódromo do Ibirapuera, em São Paulo, nessa quarta-feira, com a presença de 300 crianças da rede pública de ensino da cidade, com o apoio da Prefeitura de São Paulo através das diversas secretarias municipais, entre elas a Secretaria de Relações Sociais, do Esporte, de Assistência e Desenvolvimento Social e de Direitos Humanos, além da IPA Brasil – Rede Brincar.

Das 9h às 10h serão realizadas oficinas lúdicas pelo IPA Brasil – Rede Brincar. As atividades realizadas confrontam a idealização que muitas vezes envolve o trabalho infantil, defendendo o brincar como um direito fundamental da criança. Das 10h às 11h será apresentado o espetáculo de teatro Levanta Maria, que propõe um alerta sobre o trabalho infantil de forma bastante didática e divertida. Das 11h às 11h15 será assinado o acordo com a Secretaria da Educação sobre o projeto MPT na Escola e, logo em seguida, lançado o desenho animado do MPT.

O fim do evento deverá ser o momento mais simbólico e mais divertido do dia: os pequenos serão encaminhados a um espaço com diversas esculturas feitas de areias, de um metro e meio de altura cada, representando crianças em situação de trabalho. A ideia é que as obras sejam totalmente destruídas por eles, simbolizando o fim do trabalho infantil.

Trabalho infantil - Atualmente, o Brasil tem quase 2,5 milhões de crianças e adolescentes entre cinco e 17 anos trabalhando, segundo o IBGE. Eles trabalham na agricultura, pecuária, em comércio, domicílios, nas ruas, em construção civil, entre outros setores.

De acordo com os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde, o Brasil registrou nos últimos 11 anos (2007 a 2018), quase 44 mil acidentes de trabalho com crianças e adolescentes entre cinco e 17 anos. Nesse mesmo período, 261 meninas e meninos perderam a vida trabalhando.

A manutenção do trabalho infantil se dá, em grande parte, pela cultura enraizada em nossa sociedade de que é melhor a criança ou adolescente estar trabalhando do que estar na rua. Ainda existe o mito de que trabalho infantil ensina valores morais. As crianças que trabalham de forma irregular, sob riscos, têm seus sonhos, suas rotinas de aprendizado e proteção substituídos por uma rotina de exposição a riscos e traumas.

Aprendizagem – A formação profissional por meio da aprendizagem é uma das melhores formas de combater o trabalho infantil. Na condição de aprendizes, em 2018, o Brasil contratou mais de 444 mil adolescentes, 15% a mais em relação a 2017, de acordo com as secretarias do Ministério da Economia. Porém, ainda existem mais de 510 mil potenciais vagas que deveriam ser destinadas a aprendizagem nas empresas.

O MPT atua na luta pelo cumprimento da cota legal e na defesa dos direitos trabalhistas garantidos na aprendizagem. De 2014 até março de 2019, foram 1.460 ações ajuizadas e 2.746 termos de ajustamento de conduta (TACs) firmados envolvendo o tema aprendizagem.

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