Barco-hospital “Papa Francisco” completa um ano com mais de 50 mil atendimentos

Projeto que faz atendimento de saúde de comunidades ribeirinhas do Baixo Amazonas foi viabilizado a partir de destinação do MPT Campinas

Campinas – O barco-hospital “Papa Francisco”, unidade fluvial de saúde com capacidade para atender ocorrências de média complexidade, faz um ano de atividades na próxima segunda-feira (17/8), contabilizando 15 expedições e mais de 50 mil atendimentos médicos realizados junto às comunidades ribeirinhas na região do Baixo Amazonas, no estado do Pará.

O projeto, financiado com verbas do histórico acordo entre o Ministério Público do Trabalho e as empresas Raízen Combustíveis S/A (antiga Shell Química) e Basf S/A, foi executado pela Fraternidade São Francisco de Assis para a Providência de Deus, por meio de convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS).

Nestes 12 meses de intensa atividade, o barco-hospital fez o atendimento gratuito a comunidades nas cidades de Óbidos, Belém, Santarém, Faro, Juruti Velho, Oriximiná, Monte Alegre, Prainha, Curuá, Terra Santa e Alenquer. Contabilizam-se consultas, exames e procedimentos cirúrgicos de baixa e média complexidade (incluindo partos), além do acolhimento social de milhares de pessoas em condições de pobreza extrema, inclusive recebendo uma doação diretamente do Papa Francisco para a aquisição de cestas básicas. Durante a pandemia, a equipe do barco-hospital também priorizou o atendimento de prevenção e tratamento da Covid-19. 

A Região do Baixo Amazonas possui uma população total de 675 mil habitantes. Cerca de 48,37% da população da região encontra-se abaixo da linha da pobreza e não possui atendimento de saúde. A situação mais grave está no município de Prainha, com 69,33% da população abaixo da linha de pobreza. Os habitantes do Baixo Amazonas enfrentam dificuldades para receber o atendimento médico, tendo de realizar longas viagens de barco para chegar a um hospital ou unidade de saúde que realize atendimentos de média e alta complexidade.

“Nós cruzamos caminhos com pessoas que possuem a mesma convergência de esforços. Como o rio Amazonas tem seus afluentes, o barco-hospital Papa Francisco é fruto da dedicação e do trabalho de várias pessoas, que começaram fazendo o necessário, depois o possível, e tornaram realidade o que era impossível”, afirma o representante da Fraternidade, Frei Francisco Belotti, fazendo citação ao fundador da ordem franciscana, São Francisco de Assis.

Durante o período de operações, o barco fez atendimentos nas especialidades de ginecologia, pediatria, urologia, oftalmologia, cardiologia, dermatologia e também odontologia. A estrutura conta com sala de mamografia, sala de raio-x, sala de teste ergométrico, ultrassom, eletrocardiograma e laboratório de análises clínicas. Os médicos que acompanharam as expedições realizaram diversas intervenções cirúrgicas de baixa e média complexidade, além de prevenção contra o câncer em diversas áreas (mama, próstata, pele, colo uterino e bucal).

Para as visitas domiciliares e idas aos centros de encontros, em todas as comunidades que receberam o barco-hospital, foram utilizadas duas “ambulanchas”, que fizeram o atendimento preventivo, de cuidados e tratamento.

"Por onde esse barco passou foram distribuídos saúde, alimento, medicamento e amor. Isso prova que, se cada um de nós fizer um pouco, conseguimos mudar a vida das pessoas. Os resultados obtidos pelo projeto é motivo de muito orgulho para nós do MPT", disse o procurador do MPT em Campinas Ronaldo Lira, um dos responsáveis pelas destinações do caso Shell-Basf.

Sobre o acordo - Em 2013, o TST (Tribunal Superior do Trabalho) homologou o maior acordo da história da Justiça do Trabalho até aquele momento, celebrado entre o MPT em Campinas e as empresas Raízen Combustíveis S/A (Shell) e Basf S/A. A conciliação encerrou a ação civil pública movida pelo MPT em Campinas no ano de 2007, depois de anos de investigações que apontaram a negligência das empresas na proteção de centenas de trabalhadores em uma fábrica de agrotóxicos no município de Paulínia (SP).

O acordo garantiu o atendimento médico vitalício a mais de mil vítimas habilitadas, além do pagamento de indenizações individuais e de uma indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 200 milhões, que foi destinada para instituições indicadas pelo MPT, que atuam em áreas como pesquisa, prevenção e tratamento de pessoas vítimas de intoxicação decorrente de contaminação e/ou desastres ambientais.

Além da verba destinada para a construção do barco-hospital, em um total de R$ 25 milhões, o MPT também destinou parte da indenização para projetos do Hospital de Câncer de Barretos, Centro Infantil Boldrini, Associação Ilumina de Piracicaba, Hospital Estadual de Sumaré, Fundação de Pesquisas Médicas de Ribeirão Preto (Fupeme), Universidade Federal da Bahia, Fundacentro e Fundação Área de Saúde de Campinas (Fascamp).

 

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