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Cerimônia formaliza a destinação de verba para a construção do barco-hospital na Bacia Amazônica

Campinas - Em cerimônia realizada na sede do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região nessa terça-feira (26), em Campinas, foi oficializada a destinação de R$ 24,5 milhões, advinda do acordo com as empresas Shell e Basf, para a construção de um barco-hospital que atenderá mais de 1000 comunidades ribeirinhas na Bacia Amazônica, no Pará. O projeto será executado pela Fraternidade São Francisco de Assis, de Jaci (SP).

A solenidade contou com a participação dos procuradores Ronaldo Lira e Ana Lúcia Ribas Saccani Casarotto, do presidente do TRT-15, Lorival Ferreira dos Santos, da desembargadora Maria Inês Targa, do presidente da Fraternidade São Francisco de Assis, Frei Francisco Belotti, do advogado do Sindicato dos Químicos Unificados de Campinas, Vinícius Cascone, além de desembargadores, religiosos e outras autoridades.

Em seu discurso, o procurador Ronaldo Lira lembrou do rigor adotado pela comissão de procuradores escolhida para apontar os projetos beneficiários da verba do acordo relativa ao dano moral coletivo, dando ênfase para os diferenciais e para o apelo social apresentados pela Fraternidade no projeto de construção do barco-hospital. “Cerca de 50% de toda a região que será beneficiada pelo projeto encontra-se abaixo da linha da pobreza. Esse projeto propiciará saúde, pesquisa e tratamento, mas acima de tudo será um projeto humanitário”, afirmou

Lira destacou a importância de cada membro do MPT e do judiciário que se empenhou para que fosse possível o tratamento de saúde dos ex-trabalhadores da Shell e da Basf e também a realização das ações viabilizadas pelo acordo. “Não chegamos aqui por acaso. Foi um caminho árduo, que foi conquistado pelos trabalhadores, com o apoio do MPT e da justiça do trabalho. Foi uma luta muito intensa. Essa é a coroação de um trabalho. Acredito muito nesse projeto, como nos demais aprovados”, concluiu.

Em seguida foi feita uma homenagem aos trabalhadores mortos pela exposição a contaminantes, em que foi dedicada uma flor para cada um deles. Elas foram postas em dois grandes vasos, ao som do violino.

O Frei Francisco Belotti, num discurso emocionado, relembrou a história do projeto, que teve início com a visita do Papa Francisco ao Brasil que, ao encontra-lo, perguntou: “vocês têm algum trabalho na Amazônia? Se não estão lá, então vão”. “Todos aqueles que deram suas vidas, derramaram o seu sangue, ficaram sequelados, todos os trabalhadores contaminados e as famílias que ficaram órfãs, serão transformados em ações de tratamento e prevenção ao câncer, em atendimento de saúde às comunidades ribeirinhas na região amazônica nesse barco-hospital”, disse.

“Esse trabalho será em favor daqueles que mais precisam, que mais sofrem, que são as pessoas humildes das comunidades ribeirinhas, que têm dificuldade de acesso a tudo, sobretudo à saúde. Para nós, do TRT, é uma alegria imensa poder compartilhar com esse projeto belíssimo”, observou Lorival Ferreira dos Santos.

Sobre o projeto

A Região do Baixo Amazonas possui uma população total de 675.510 habitantes composta por 12 municípios: Alenquer, Almerim, Belterra, Curuá, Faro, Juruti, Monte Alegre, Óbidos, Oriximá, Prainha, Santarém e Terra Santa. Cerca de 48,37% da população da região encontra-se abaixo da linha da pobreza e não possui atendimento de saúde. A situação mais grave está no município de Prainha, com 69,33% da população abaixo da linha de pobreza. A pesca e o extrativismo são as atividades econômicas mais comuns na região. Algumas contaminações são frequentes nas comunidades ribeirinhas, decorrentes da exposição ao veneno da malária e ao mercúrio, devido ao garimpo realizado em larga escala. Os habitantes das cidades ribeirinhas enfrentam dificuldades para receber o atendimento médico, tendo de realizar longas viagens de barco para chegar a um hospital ou unidade de saúde. O tempo necessário para o deslocamento, em média, é de 24 horas até Manaus ou 12 horas até Belém.

O barco-hospital fará o atendimento nas especialidades de ginecologia, pediatria, urologia, oftalmologia, cardiologia, dermatologia e também odontologia. A estrutura contará com sala de mamografia, sala de raio-x, sala de teste ergométrico, ultrassom, eletrocardiograma e laboratório de análises clínicas. Será possível realizar cirurgias de catarata e intervenções cirúrgicas de baixa complexidade, além de prevenção contra o câncer em diversas áreas (mama, próstata, pele, colo uterino e bucal). Também será feita na embarcação a coleta de dados para pesquisa junto à população ribeirinha. O projeto prevê a disponibilização de duas “ambulanchas”, que serão utilizadas para visitas domiciliares ou em centro de encontros nas comunidades, que farão o atendimento preventivo, de cuidados e tratamento.

 

Fotos: Marlon Carrasco

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